A Investigação Apreciativa é uma abordagem de mudança que foca nos aspectos positivos das pessoas, líderes, equipes, organizações e sistemas. Se diferencia dos processos tradicionais pela crença de que em todo sistema, seja pessoa, empresa, times, etc. existem histórias, experiências, capacidades positivas que merecem ser lembradas e destacadas para servir de inspiração para novos desafios.
Essa abordagem oferece um processo para que possamos acessar os pontos fortes de um sistema e ampliar a capacidade das pessoas de se envolver em mudanças. Ela foi muitas vezes vista como inocente porque tradicionalmente as abordagens de mudanças tinham os problemas como foco. Claro, se uma empresa tem um problema, seus líderes querem que os mesmos sejam solucionados. A diferença entre a IA e os meios tradicionais de solucionar os problemas está na forma ou estratégia para encontrar soluções.
A lógica nos processos tradicionais seria identificar o problema e tentar entender as causas para resolver de uma vez por todas. Mas a IA é diferente. Sua filosofia propõe uma investigação positiva sobre momentos quando um líder, ou mesmo toda uma empresa, teve sucesso enfrentando um problema similar. Assim, o problema sai do centro da atenção das pessoas, permitindo que elas parem de gastar energia pensando sobre o porquê dos problemas e comecem a criar soluções inovadoras que vão além de simplesmente consertar! Para tanto, se cria uma pergunta que direciona a reflexão aos momentos mais exitosos. Por exemplo, se uma empresa tem uma problema de comunicação entre diferentes unidades de negócio a proposta será criar perguntas para que essas unidades de negócio lembrem de momentos quando tiveram sucesso na comunicação tanto internamente quanto uma com a outra.
Reconhecemos que todo negócio tem problemas de pessoas – tais como turnover, baixa estima de líderes e baixo desempenho de equipes – que precisam ser solucionados. Porém, a diferença está no meio: qual caminho seguir para não somente solucionar problemas, mas ir além e inovar? A IA foi criada por David Cooperrider e seus colegas, pesquisadores da Case Western Reserve University (CWRU) com o objetivo de gerar espaços para promover diálogo que conduz à eficácia e integridade do sistema social. A ideia era lançar algo que permitisse as organizações se tornarem mais positivas, ou organizações apreciativas.
Meu Encontro e Jornada com a IA
Me encantei com a IA muitos anos atrás quando fui visitar a CWRU pela primeira vez e vi uma apresentação do David. Achei uma grande sacada a de inverter a pergunta, senti em mim mesma a sensação de força e determinação quando vivenciei a entrevista apreciativa pela primeira vez. Dois anos depois dessa visita comecei a fazer meu doutorado, sempre com essa curiosidade sobre a aplicação da IA. Um dia eu estava trabalhando na cozinha do pequeno apartamento onde morava em Cleveland em um dos artigos para um dos meus trabalhos de curso quando o telefone tocou, eu atendi e era o David, fiquei apreensiva por não saber o que ele queria e comecei me perguntando: perdi algum um prazo para entrega de trabalho? Ele era meu professor naquele semestre.
O meu normal também era esse, mesmo sem saber muito sobre a situação, listava as possíveis dificuldades, nesse caso, por meu professor me chamar. Nós fomos educados para isso e até hoje, com algumas exceções, as nossas escolas ainda levam as crianças a focarem nos problemas. No início da ligação eu senti dúvida, preocupação. Não conseguia me lembrar dos sucessos anteriores que obtive. Os padrões de pensamentos negativos que passaram em minha mente eram o normal para mim e somente depois fui aprender que eram muito diferentes dos padrões que aprendi com a IA, apesar das circunstâncias difíceis, quase sempre se pode olhar uma situação por um ângulo que nos traz energia.
Independente do que passava na minha cabeça naquele momento, do outro lado da linha, a voz do David parecia animada, eu podia ouvir vozes de pessoas conversando ao fundo. Ele me contou sobre a possibilidade de um cliente em potencial no Brasil, depois me perguntou se eu gostaria de ajudá-lo nesse projeto. Eu imediatamente disse que sim! Eu pensei, uma oportunidade de trabalhar diretamente com o criador da IA em um projeto no meu país. Comecei a imaginar o quão importante seria para o Brasil e como ajudaríamos as pessoas a se verem através de lentes apreciativas. Ele interrompeu meus pensamentos e perguntou se o empresário que o havia convidado poderia me ligar para discutir mais sobre a possibilidade. Por um impulso, eu disse que sim!
Depois que ele voltou de viagem e em outro telefonema, David me contou um pouco sobre a pessoa que havia solicitado o trabalho, o descreveu como presidente de uma empresa brasileira fascinado pela IA e que ele, David, gostaria de fazer esse trabalho nessa empresa porque era realmente importante para o futuro e que esse empresário havia mostrado o principal fator para o sucesso da IA, a crença no poder de transformação dos negócios por meio das pessoas e de seus talentos. Achei tudo muito fascinante, pensei que seria um trabalho em que eu teria a chance de aprender no campo! Seria uma oportunidade muito boa para mim. Desliguei o telefone com a sensação de que essa seria a oportunidade de divulgar a IA no Brasil.
Desde que concluímos esse trabalho no Brasil, fizemos vários outros projetos, compartilharei aqui no futuro próximo alguns dos cases onde tive a oportunidade de aplicar a IA e os resultados alcançados.
Como evoluir a nossa forma de ver o mundo?
Muita gente que converso me fala que não gosta de estar perto de pessoas negativas. Claro, ninguém gosta de estar com alguém que sempre vê o lado ruim das coisas ou que sempre tem um comentário para derrubar o entusiasmo do outro. Mas, na verdade, o que nos leva a ter essa mentalidade baseada na escassez é o nosso diálogo interno, isso mesmo, as conversas que temos com nós mesmos. Pensamentos do tipo “eu não vou conseguir”, “não vai dar certo”, ou mesmo lembrar de momentos negativos do passado, tira a energia na mesma proporção que pensar sobre as coisas positivas trazem energia. No fundo, não damos muita atenção a isso, deixamos os pensamentos fluírem, mas o ideal é que mudemos o pensamento para algo que nos levante sempre que estivermos de baixo astral. Se o ponto é saber como fazer toda uma empresa ser mais positiva, existem alguns passos que podemos seguir.
IA propõe 4 fases de um processo onde se pode exercitar uma nova “mirada” coletiva. Isso acontece através da vivencia do ciclo 4-D: descoberta, sonho, desenho e o destino. Como destacamos antes, a investigação apreciativa é um processo que nos orienta a descobrir competências, conhecimentos, habilidades que usamos no passado e esquecemos porque não valorizamos tanto nossos sucessos quanto nossos fracassos. Temos o desejo de consertar o que está errado mais forte do que criar um futuro que realmente queremos, por isso a importância de seguir um método que nos ajude, é como colocar lentes novas para poder enxergar novas possibilidades.
A fase da descoberta nos faz enxergar coisas que antes não conseguíamos, como se colocássemos um foco de luz em nosso passado somente naqueles momentos onde fomos bem sucedidos. A proposta é destacar esses momentos e contar a história do que aconteceu. Aprendemos muito nessa fase. Por exemplo, quando estou trabalhando com equipes e fazemos perguntas para que reflitam sobre momentos de êxito trabalhando juntos, escutamos histórias bem interessantes que os levam a entender o que podem fazer para gerar um ambiente que propicie alto desempenho. O propósito da fase da descoberta é conectar com a energia do sucesso, aprender com ele e descobrir do que somos capazes.
Em várias ocasiões, ao trabalhar com IA, as pessoas me perguntam se elas teriam que esquecer os problemas ou se deveriam fingir que os problemas não estavam lá. Essas são perguntas muito comuns e fazem sentido porque a nossa forma de ver o mundo é a base para o nosso comportamento, de como reagimos às pessoas, das nossas escolhas e até decisões. Mas, nesse caso, a IA não propõe fazer de conta que o problema não existe, mas sim investigar, tentar descobrir e conectar com os momentos positivos. Quando conseguimos conectar com os momentos onde nos sentimos mais felizes, positivos, bem sucedidos, eficazes em nossas vidas, as emoções positivas vividas nesses momentos vem a tona e sentimos tudo outra vez, e é com essa sensação de vitória que seguimos adiante e olhamos o mesmo problema de antes com muito mais capacidade de solução, sem medo e com confiança. Por isso a importância da fase da descoberta.
A segunda fase no modelo dos 4D é a fase do sonho, essa fase acontece quase que naturalmente, as pessoas estão prontas para se lançarem para o futuro e explorarem imagens daquilo que verdadeiramente gostaria de fazer. Quando estamos contagiados pela energia do sucesso gerada na fase da descoberta nos sentimos naturalmente confiantes para tentarmos colocar em prática aqueles nossos sonhos mais ousados. É nessa fase onde nos conectamos com o que verdadeiramente gostaríamos de fazer em nossas vidas, simplesmente porque passamos a acreditar que podemos!
Na fase de design, criamos um desenho de como iremos fazer para realizar esse sonho. Muitas vezes usamos a tecnologia do “design thinking” já que o sonho irá desafiar a nossa forma de fazer as coisas. Esse processo ajuda a inovar porque engloba o desenvolvimento de conceitos, a criatividade aplicada, a criação de protótipos e experimentação, fazendo com que as pessoas saiam do “mais do mesmo” e criem meios novos para realização.
Já na fase do destino, que muitas vezes é chamado de entrega, concentra na construção do espaço ou ambiente onde as novas ações irão acontecer. Nessa fase também se avalia a evolução das iniciativas propostas na fase do desenho.
O ciclo 4-D, que na verdade refere-se às fases em inglês, discovery, dream, design, destiny (delivery) oferece uma plataforma para transformar toda uma organização e os modelos mentais que moldam os comportamentos das pessoas. Transformar uma organização em uma ambiente apreciativo requer mudanças profundas, rever valores e crenças, mas vale a pena todo o trabalho porque aumenta o compromisso, engajamento e sensação de pertencimento. Falaremos com mais detalhes sobre isso nos próximos posts.
Querida Ilma, você é uma Grande Inspiração para mim, a Ia mudou minha Vida Pessoal e Profissional!
Tive o privilégio de te conhecer muito brevemente na minha formação em IA
Gratidão pelo texto , Clareza, consistência e Coerência. A Alma da IA , em poucas palavras, uma profundidade!